Segundo Thaís, “é da desobediência que surgem a escrita, o pensamento crítico, a busca pelo conhecimento e o resgate da história das mulheres que vieram antes de nós”, temática cara à autora, que trabalha para a divulgação da escrita de mulheres por meio de diversas iniciativas culturais.
Além de ser uma entusiasta da poesia, Thaís se mune dos mais variados assuntos pelos quais se interessou ao longo de sua vida para a construção de poemas que vão desde memórias de família até a mais profunda ligação com as estrelas e a criação do universo. Tudo isso sem nunca deixar para trás as histórias das mulheres, sejam próximas a ela, como suas avós, sejam as grandes cientistas e escritoras que viram seus feitos esquecidos ou creditados a colegas homens.
Também vem da desobediência a sensação de não pertencimento desse eu-lírico feminino, marcado pelo desejo de descobrir tudo que puder, inclusive sobre si mesma. De maneira por vezes doce, outras bem-humorada, outras ainda insurgente, a poética de Thaís alinhava os mais ínfimos elementos à imensidão dos planetas e o remédio que ardia nos machucados das meninas desobedientes dos anos 90.
A memória se manifesta recorrentemente no livro, uma memória que se mistura à ficção para formar um universo ao mesmo tempo pessoal e universal. Thaís acredita que, de certa forma, é na infância que está a origem de tudo: nos laços e exemplos familiares. Estar diante das possibilidades que o mundo oferece e se perceber diferente de todos, inclusive daqueles que eram até então tudo que se conhecia é um assombro, assim como é se voltar para a casa e observar as idiossincrasias familiares como algo que também nos constitui.
Na quarta capa, Jeovanna Vieira afirma: “a poesia de Thaís Campolina não nos diagnostica dizendo que a febre é culpa da nossa índole de escritoras”. Com orelha de Carla Guerson e posfácio de Letícia Miranda, esse é um livro em constante estado febril. O coming age de uma menina desobediente que tenta, a todo custo, não se deixar ser domada. E consegue.
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Thaís Campolina nasceu na mesma cidade que Adélia Prado em 1989 e quase sem querer encarou essa coincidência territorial como um destino e passou a escrever poemas a fim de investigar qualquer coisa sem registro (Crivo Editorial, 2021), seu primeiro livro de poesia. Apaixonada por plaquetes, também publicou noticiosas (artesanal, 2023), línguas soltas (Primata, 2024) e frigideira (Tato Literário, 2024). Pós-graduada em Escrita e Criação, é mediadora de leitura nos clubes Cidade Solitária, Leia Mulheres Divinópolis e Casa das Poetas, além de curadora da página Bafo de Poesia.
Estado febril
Thaís Campolina