sinfonia
vibrações e frequências
- harpear tuas costelas costumeiramente
- conhecer tuas formas, curvas e texturas pelo tato
- dedilhar os fios emaranhados dos teus cabelos crespos
- saber da sinuosidade do lóbulo da tua orelha com a língua
e quando distante
imaginar cenários feitos pelo fio do acaso
só pra continuar te sentindo
dentro
presa
observo atenta
a desenvoltura dos teus dedos
que caminham vagarosos
no espaço invisível
que te faz chegar em mim
rompo leis da física
e devoro todos eles
à quilômetros daqui
conto até três
a presa agora sou eu
nas minhas tuas bordas
me derramo
me oferto
como cordeiro entregue
ao teu querer
não há nada que me impeça
nesse meu imaginário
de percorrer tuas veias
na saliva quente
- minha -
novamente
conto até três
e desta vez
você não me foge mais
observo atenta
os teus passos até mim
a presa agora é você
mastro
sinto
dezesseis tipos de ventos
quando ela atira
seus olhos
- profundos -
ou
qualquer
palavra-lâmina
em direção à mim
eu navegarei tranquila
por seus oceanos
como um marinheiro taitiano
que sabe do manejo
do subir e descer de velas
dos caminhos das águas
da curvatura da amura
ela
sujeito simples
determinado
me faz sentir
da brisa ao furacão
e catorze outros ventos medianos
os quais não sei dos nomes
mas que os sinto
compreensíveis
e os enumero
do um
ao dezesseis
(mania minha de deixar palavra escapar e numerar o que não pode ser medido)
no mastro - meu -
sinto com exatidão
as direções opostas
as temperaturas adversas
e navego
tranquila
sem medo de naufragar
ela tem o elemento ar na cabeça
e brinca
e atiça
e espalha
o fogo
que sou
mas sem nunca me apagar
_
Aline Silva Nobre é Cearense, Engenheira Sanitarista e Ambiental e Poeta. Desenvolve trabalhos na área de Meio Ambiente em municípios do Sertão Central Cearense. É autora do livro Mulher-Contestada (Urutau, 2021) que aborda a temática do ser mulher e amar mulheres. Publicou textos em antologias, blogs e jornais. A maior parte de suas obras foi editada de forma independente por meio de zines. Tem se aventurado nas colagens manuais e digitais e descobrindo uma forma além-palavra de se expressar. E, dizem as outras, sorri enquanto dorme.
que delícia