1
onde começa um corpo?
dança
umbigo
nome
alfaiates não
bromélias talvez
palavra
se ao passarinho
seu nome próprio é um assovio
nem bicos ou substantivos
o que de nós é nosso nome?
também tecemos casa com a
boca
também jantamos
o que jantam os vizinhos
também juramos
que estão os outros
engaiolados
chama-se tradição
se chamarmos as dobras
de
braços abertos
todo o resto é uma miragem
uma ideológica ilusão
se chamarmos o olhar
de
abajur aceso
todo o resto se acende
sem esperar resposta
ou razão
então
quando começa um nome?
onde termina o que é antigo?
2
as árvores estabelecem complexas comunicações entre si
as árvores têm
telefônicas conexões
para garantir sua sobrevivência ou
como mais tarde descobriremos
para garantir uma alegria
natural
e, no entanto, eu
mal consigo levantar meus polegares opositores
e mais três ou quatro pares de outros tipos de dedos
para responder esta mensagem.
e seguir em frente
quantos poemas de amor ou de guerra
serão esquecidos
no rascunho distraído de um e-mail?
um poema quer estar onde estão
as pessoas
mas
deixamos tudo encaixotado
quase tudo
um pouco ainda
apenas o que há de mais inofensivo em nós mesmos
podemos carregar livres debaixo dos braços
mantê-los ocupados
para que não escapem gestos muito grandes
para que não acenemos à mudança
quando ela presenteia uma esquina
e não demora muito até partir
você sabe
existem acordos com as lagartas
que
naturalmente
não podem ser quebrados
enquanto nós
deixamos tudo encaixotado
quase tudo
Anna Lúcia Maestri é educadora, poeta e escritora, assina a newsletter Devaneios dos Ladrilhos de Dentro, vem publicando seus poemas nas redes sociais e está prestes a lançar seu livro de estreia (editora Devir Poesia & Prosa). Como educadora, trabalha com crianças da comunidade de Paraisópolis–SP, cruzando esse caminho com a escrita de narrativas de Literatura Infantil.
Que maravilha estar neste espaço, junto de mulheres com as quais eu quero me parecer tanto algum dia… Obrigada!