não se demore
tio Jair faleceu domingo
Nina quarta retrasada
o pai da Carolina
se foi também
eu não conto desde então
mas não parei esse cerco
da morte
a rede da morte leva gente de arrasto
e traz urgências
com pressa
escrevo um livro de poemas
pinto os quadros da exposição
imaginada
obras-primas de uma vida
quem sabe
com pressa
digo
te amo tenho saudade
me perdoe te perdoo
me perdoo?
com pressa o hoje
vivente duvida
deve continuar sua carne
em outro vivente?
mas a morte
ah
a morte se demora
ela tem tempo
essa dona do relógio do mundo
_
Patrícia Tesch nasceu no Rio de Janeiro e é formada em Administração pela UFRJ. Participa de oficinas literárias e, cada vez mais, encontra suas vozes no conto e na poesia. Contribuiu com o poema "À garota de olhos suplicantes no metrô desta manhã de quarta" e com o conto "A Casa da cobra que bate tambor" para a coletânea Parem as máquinas!, do selo Off Flip, em 2020; e com o poema "Chiaro oscuro" para o post Olhar para o outro, na sessão poesia, no blog da Macabéa, em maio de 2020.
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