Os bebês pelados, as senhoras, os mendigos e os deuses
Os bebês e os moradores de rua
ficam pelados em praças públicas
estão sempre a contar histórias
são pouco escutados e sentem fome
Os deuses e as senhoras que não saem de casa
acreditam conhecer todos os pisos,
amam gatos, ambrosia e decoração
e, quando falam, costumeiramente
rompem o silêncio que nos fascina
Aos vinte e um, acreditei estar mais próxima dos deuses
e das senhoras que não saem de casa
que dos bebês e dos moradores de rua
Não que eu não fique pelada em praças públicas. Também não
por me escutarem ou por sempre e felizmente
me embuchar no restaurante universitário
Eu sempre estive com a minha avó, em casa. E vi poucos deuses,
muitos eram tristes. Assim acreditei, cada dia mais, ser como
os deuses e as senhoras que não saem de casa
Eu ainda não havia percebido que todo poeta como eu
e não sei como escrevemos com esse salário mínimo
estava mais para uma senhora
pelada na praça vazia
preparando sopas
de estrelas
cruas
Luíza Lima de Matos nasceu em Itabuna, no interior da Bahia, em 2002. É maquinista, poeta e estudante de Letras.
Macabéa e esses textos em gotas deliciosas, adoro receber.