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Foto do escritorTéia Porto

poema cardíaco – poesia


Raymond Pettibon ©


poema cardíaco


meu coração sublocado

abriga em um dos ventrículos

(não lembro qual

perdi o contato)

uma brisa sonora e incandescente

de tudo o que é quente e terno


às vezes arde

dá azia

mas em geral tem sim

forro de veludo rosa


o outro ventrículo fica anunciado

no airbnb

mas por falta de sagacidade

permanece pouco utilizado

quase sem liquidez

uma espécie de dark side of the moon

cheio de mistérios indizíveis


já os átrios viraram um acampamento

de sem-terras e montanhistas delirantes

desses que fazem sempre fogueiras

nos cumes dos campos de altitude

botando em risco as matas virgens


e aorta

veia cava

artérias

e todos os parangolés restantes

permanecem livres

como tobogãs que podem te jogar

na parte secreta de uma cachoeira






Nascida em 2023, Téia Porto experimentou oblonga gestação no melhor estilo girina elefântica, com notas de corpos celestes e outros sotaques. Nadou até suar, trazendo difíceis implicações na hora de romper a membrana da superfície. Na virada da curva, sua pele caiu por completo. Dessa forma, rastejou algo rebolativa para fora de si e pôde reconhecer-se, matando um bonito nome para assumir outro cheio de fios. Transbordada, costurou-se então em pontos bem firmes. Ao curso da distinta gestação, publicou os livros Idiotentativa, Só, atrás do ouro, Animal de estimação, Farpado, No bolso do peito uma bússola quebrada e Américas, 6222, além de ter cometido audiovisuais.


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