poema cardíaco
meu coração sublocado
abriga em um dos ventrículos
(não lembro qual
perdi o contato)
uma brisa sonora e incandescente
de tudo o que é quente e terno
às vezes arde
dá azia
mas em geral tem sim
forro de veludo rosa
o outro ventrículo fica anunciado
no airbnb
mas por falta de sagacidade
permanece pouco utilizado
quase sem liquidez
uma espécie de dark side of the moon
cheio de mistérios indizíveis
já os átrios viraram um acampamento
de sem-terras e montanhistas delirantes
desses que fazem sempre fogueiras
nos cumes dos campos de altitude
botando em risco as matas virgens
e aorta
veia cava
artérias
e todos os parangolés restantes
permanecem livres
como tobogãs que podem te jogar
na parte secreta de uma cachoeira
Nascida em 2023, Téia Porto experimentou oblonga gestação no melhor estilo girina elefântica, com notas de corpos celestes e outros sotaques. Nadou até suar, trazendo difíceis implicações na hora de romper a membrana da superfície. Na virada da curva, sua pele caiu por completo. Dessa forma, rastejou algo rebolativa para fora de si e pôde reconhecer-se, matando um bonito nome para assumir outro cheio de fios. Transbordada, costurou-se então em pontos bem firmes. Ao curso da distinta gestação, publicou os livros Idiotentativa, Só, atrás do ouro, Animal de estimação, Farpado, No bolso do peito uma bússola quebrada e Américas, 6222, além de ter cometido audiovisuais.
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