eu corpo morto
eu corpo anticorpo
flores d’uma estátua
em pedaços
eu corpo torto disforme
na língua nos olhos nos braços
vislumbro teu corpo conforto
inundo enorme
tu meu porto
eu teu corpo.
Olhos escuros
Olhos amendoados e cerradinhos
íris de um castanho escuro brilhoso
e bem lá no meio
um pontinho branco
eu me encontro estando
há luminosidade no breu
olhos escuros quase como os meus
pálpebras cansadas
de uma vida inteira caminhando
mas não profundas
nuas sempre nuas
com poucas olheiras
e imperceptíveis veias
olhos apertados sorridentes
de cílios a decorar
não há quase rugas
não há nenhuma dúvida
olhos de quem sabe me amar
Trinta e quatro anos pra sempre
mas se não vês nítidos
os olhos que te pinto
não te inquietes
saibas que pela foto
também não me distinguem
mas sei que estão lá
os mais lindos olhos escuros
que existem.
Me recrio com tinta a óleo
na tela de vidro
do quarto
grudo cacos de pano
nos olhos e uso pincéis
cílios lábios
medos
mãos tons pastéis
preto ecosolv
máscara loratadina.
Desconheço clássicos afagos
esqueço detalhes
roupas sina
arranho a dura pele
quente de sol
de resto respiro reflito refrato
cristalina.
Vejo a chuva que se forma
colorida
gotinhas que em mim não encostam
decoram
sorrio e me reúno aos pedaços
e modos com o corpo vestido
assim como a tela
de tinta a óleo.
as mãos que me calam as palavras,
as mesmas que me falam no toque,
dançam a cada pedaço
arrancam gemidos
que faço
são mãos que me veem
na penumbra
mãos desesperadas
dedos treinados
dedilhados
tensão pura
encontro-me desarmada
peço que elas me abram
no meio
do peito
do anseio
sem receio.
canto com olhos
as lágrimas
pelas adoradas mãos
que me passeiam.
_
Sarah Israel pode ser muitas coisas e nada também. Pode ter graduações no público e no privado, tentativas mil de muito ou pouco, pinturas em quadros, até parto, anel, o chão e o céu. Mas o que a importa é que seja lida. Lida porque é assim que consegue transmitir alguma emoção, deixar um pouco de si, sem nem saber quem a toca pelos olhos e a comporta ali dentro, dando algum sentido ao que fora lido de si.
Sarah nem sei o que dizer.
Fico emocionada com teus poemas. Lindos
Diferentes. Incriveis. Muito mais do que intigentes são doces. Meigos. Sutis. Que fazem pensar: como é possivel tamanha sensibilidade. E essa forma tão diferente de se expressar.
Parabéns. Lembras muito teu pai nessa sensibilidade de dizer as coisas tão lindas de forma única. PARABENS MINHA NETA
PARABÉNS.